Professor Marcos Barbosa, coordenador do CTO, mostra vantagens do pasteio com cães |
Trinta ovelhas pastavam no fundo de um piquete de cerca de meia hectare. Bia, uma Border Collie, sai correndo ao encontro delas, junta todas e as conduz até a porteira para serem tratadas. Simples e rápido assim. O cão de pastoreio não é novidade, mas em Mato Grosso do Sul não passam de cem os fazendeiros que utilizam eles na lida diária. Para mudar esta situação o CTO (Centro de Tecnologia em Ovinocultura) da Uniderp (Universidade para a Integração do Pantanal) Anhanguera tem um programa especial para popularizar esta prática por aqui.
“Com ela o serviço de cuidar das ovelhas fica bem mais fácil”, conta o médico veterinário Guilherme dos Santos Pinto, écnico responsável pelo CTO.
Bia foi doada há três anos pelo Stock Dog Ranch, para divulgação do trabalho de lida de gado com cães pastores. Hoje, a universidade organiza duas vezes por ano o curso de treinamento de cães para pastoreio.
O trabalho de Bia é bem mais complexo do que simplesmente ir buscar as ovelhas. “Ela tem de saber como vai se aproximar e por qual lado vai conduzir os animais. Se tem um mato à esquerda ela não pode chegar pela direita, senão vai enfiar todos no mato”, explica. E para saber qual é o melhor caminho para chegar ao rebanho, o peão tem de passar os comandos, que são verbais ou por apitos – para quando o cão está muito longe.
A principal vantagem de se trabalhar com um cão é a rapidez e facilidade em se conduzir o rebanho para onde quiser. “Com um cachorro desses, a única coisa que o peão tem de fazer é ir abrindo as porteiras”. Nesse “dueto”, de um homem e um cão, é possível manejar-se até 800 animais, o que vai deixar dois ou três funcionários da fazenda livres para outras atividades, e não faz diferença se são ovelhas ou vacas.
“Na verdade nós trouxemos o cão de pastoreio justamente para trabalhar com rebanhos de grande porte, porque é a maior atividade econômica em Mato Grosso do Sul. A única diferença é que, para o gado bovino, usam-se cachorros com um porte maior para poder encarar os boi, porque eles vão para cima mesmo e se impõem ao rebanho”, acrescenta o professor Marcos Barbosa, coordenador de projetos do CTO.
O processo de seleção dos cães começa desde quando são pequenos. O proprietário observa qual é o mais esperto, o que tem um comportamento mais desejado para este tipo de trabalho, e começa a treiná-lo aos seis meses. Ele vai estar completamente pronto para o trabalho em cerca de um ano aprendizado.
Os cães são treinados não somente para arrebanhar os animais, mas também para mantê-los separados um dos outros. “Se eu quero tratar aquelas que estão prenhas, por exemplo, eu as tiro de lado e a Bia não deixa elas voltarem ao grupo”. Eles ainda são ensinados para identificar um animal que esteja doente entre o rebanho. “Caso ela veja um que esteja deitado, com dificuldades, ela vai parar de tocar o grupo e vai ficar parada até que eu chegue lá e perceba a situação”.
O trabalho em grupo desses cães pode ser ainda mais eficaz. Segundo Pinto, como a tendência do canino é a de caçar em matilhas eles vão estabelecer uma hierarquia entre eles e vão administrar a condução do rebanho de forma ainda mais eficiente. Contudo, ele alerta que o treinamento tem de ser individual, pois pode gerar uma dependência entre os cães que, quando separados, não vão fazer o serviço que devem.
Um Border Collie já treinado custa entre R$ 2.500 e R$ 3.000, mas alguns podem alcançar preços bem mais altos que chegam aos R$ 8.000. Já os filhotes podem ser adquiridos entre R$ 400 e R$ 1.000,00.
O Border Collie é uma raça que veio do Reino Unido, da fronteira entre a Inglaterra e a Escócia, por isso o nome Border, que em português significa fronteira. Naquela região seu uso no pastoreio é extremamente intenso e antigo. Referências literárias desta raça são encontradas em livros que datam do ano de 1570. Durante todo este tempo, os animais foram selecionados não por sua beleza ou características corporais, mas sim por sua aptidão para pastorear, razão pele qual hoje a raça é referência nesta atividade.
Fonte: Folha do fazendeiro