O Australian, lembra o australiano John Chandler, surgiu da necessidade. “Quando os colonizadores chegaram à Austrália, no início de 1800, trouxeram para cá numerosas boiadas”, conta John. “Como foram mantidas soltas, pastando nas áreas selvagens e de clima quente e inóspito, típicas do território australiano, acabaram se tornando muito agressivas.” Assim, fez-se fundamental a existência de um cão resistente, corajoso e ágil para lidar com rebanhos difíceis, em ambientes hostis. Os colonizadores tinham seus próprios cães para o trabalho com o gado, mas eles não se adaptaram àquelas condições. Além de tudo, latiam demais durante o serviço e mordiam o focinho dos bois na tentativa de manejá-los. O resultado era uma boiada estressada e ainda mais arredia. Esses cachorros pertenciam à extinta raça conhecida por Smithfield. Na esperança de torná-los aptos à atividade, alguns deles foram acasalados com Dingos, cães selvagens australianos, adaptados ao hábitat local, caracterizados pelo comportamento silencioso, porém também mordedor. Os descendentes dessa mistura foram chamados de Timmon’s Biters. Mas não serviram para o trabalho: quase não latiam, porém mordiam ainda mais. Em 1830, o colonizador Thomas Hall fez nova tentativa. Desta vez, rumo ao sucesso. Promoveu o acasalamento entre Dingos e Scottish Drovers Dogs, cães que, embora não fossem de raça pura, eram selecionados para condução do gado. Os frutos da experiência foram batizados de Hall’s Heelers. Eram resistentes, latiam pouco e não mordiam em excesso. Outras miscigenações foram feitas, envolvendo Hall’s Heelers e Dingos. Mais de dez gerações eram necessárias para que se obtivessem exemplares apropriados ao trabalho. “Diferentemente do que muitos pensam, não houve Collies na história do Australian; ele é fundamentalmente originário do Dingo e do Hall’s Heeler”, afirma John. “Houve, sim, introdução de mais algumas raças para aprimorar certos aspectos, mas, por outro lado, elas traziam problemas”, acrescenta. O Dálmata foi usado para colaborar com dois de seus famosos atributos: a devoção ao ser humano e a receptividade ao cavalo, essenciais na lida com o gado, desempenhada sempre na presença do Homem a cavalo. “Em contrapartida, prejudicou o instinto de conduzir a boiada e gerou cães de orelhas pendentes, menos aptos a ouvir o comando do Homem durante o trabalho”, contrapõe John. O Bull Terrier, por sua vez, entrou na formação do Australian para torná-lo ainda mais corajoso. “Foi um equívoco; o Bull era usado em lutas e transmitiu um comportamento muito violento em relação à boiada”, explica John. Por último, usou-se o Kelpie, para reforçar o instinto de boiadeiro, então prejudicado pelo sangue do Dálmata. Após uma sucessão de erros e acertos, em 1893 o Australian foi considerado pronto. A raça também é conhecida por Blue Heeler e Red Heeler. Os termos blue e red designam as cores aceitas para ele: azul marmorizado, a mais comum, e vermelho marmorizado. Já heeler pode ser traduzido como “calcanhador” e vem do inglês heel, que significa calcanhar, alusão à natureza da raça de morder o boi nesta região das pernas.
Fonte: PETBRAZIL
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