De origem europeia, cão da raça Border Collie é capaz de guiar 120 cabeças de gado e 200 de ovelhas
O cachorro, considerado "o melhor amigo do homem", pode ser também um importante aliado dos criadores de bovinos - o mais numeroso rebanho do país -, ovinos, búfalos, porcos e cavalos, principalmente se ele for o cão de pastoreio da raça Border Collie, originária da região montanhosa na fronteira da Inglaterra com a Escócia. Além da rapidez e qualidade na execução do trabalho de condução de rebanhos, docilidade e fidelidade ao dono, o cão oferece outras vantagens, como inteligência expressiva e baixo custo de manutenção, de aproximadamente R$ 40 a R$ 50 por mês.
No país, existem cerca de 20 criadores profissionais de Border Collie, concentrados principalmente no interior de São Paulo e Rio Grande do Sul. Em Minas Gerais, o único centro de treinamento (CT) para cães de pastoreio está instalado no município de Pedro Leopoldo, na Grande BH. A estrutura pertence ao Canil Boiadeiro, localizado em Ervália, Zona da Mata mineira, onde são criados uma média de 30 filhotes/ ano.
Os cães, de acordo com o proprietário do Canil Boiadeiro, Cláudio Murilo da Silva, começam a ser adestrados a partir do sétimo mês de vida e são condicionados a obedecer oito comandos básicos: olhar para o rebanho, movimentar-se no sentido horário, no sentido anti-horário, parar, ir em direção ao rebanho, diminuir a velocidade, morder levemente a face ou o tornozelo do animal, afastar-se do rebanho, ir se encontrar com o dono.
Uma das principais características naturais do Border Collie, que atinge velocidade de até 70 quilômetros por hora, é agrupar rebanhos e conduzir os animais para algum local. Só que ele não sabe para onde levar. Por isso, existem os comandos e alguém, como o vaqueiro, para orientar o cão, o que pode ser feito por meio dos comandos, de perto, ou de apito, quando ele se encontra a uma distância maior do responsável pelo pastoreio.
Além da inteligência e da predisposição ao trabalho, o Border Collie tem como característica marcante o "poder de olhar", como dizem os criadores. Isso quer dizer que a raça é capaz de controlar os animais pastoreados com o olhar fixo, fazendo com que eles se movam na direção desejada.
Silva ressalta, ainda, que esses cães são mais 'duros', ou seja, exercem uma pressão natural sobre o rebanho. "Se, em um grupo de bovinos, um deles resolve abandonar os demais e partir em corrida, o cão cerca o bicho. Às vezes, é necessário morder o animal, na pata ou na cara, para que ele obedeça", salienta. Segundo ele, existe a necessidade de 'quebrar' o rebanho, o que é feito por meio da mordida, até que os animais "entendam a linguagem dos cachorros".
Na avaliação do dono do canil, os ganhos dos vaqueiros ou fazendeiros com a utilização do Border Collie são vários. Em primeiro lugar, o peão da fazenda aprende a conhecer melhor o rebanho que trabalha, por exemplo saber que sempre existe um líder. Passa a entender, também, quais animais possuem temperamento mais forte ou são mais sociáveis. "Quando é possível prever o que acontece no rebanho, o trabalho fica mais fácil."
Outro benefício, mesmo que indireto, é a redução do estresse, devido à garantia do agrupamento do rebanho, que provoca queda de rendimento do animal. "A vaca com menos estresse dá mais leite. Já no gado de corte, a desidratação é menor, o que pode influenciar no ganho de peso", pondera. Apenas um cão, estima Silva, é capaz de conduzir até 120 cabeças de gado. No caso de ovelhas, 200 cabeças.
Preços do cão têm variação
Segundo o treinador profissional de Border Collie Fernando Loiola, do Canil Boiadeiro, a utilização desse raça de cachorro, ainda pouco conhecida no país, já que a criação é recente - teve início em 1994 -, tem crescido nos últimos anos. Existem basicamente duas formas de adquirir o cachorro no local: comprar o animal já treinado ou ainda filhote, para depois ser treinado.
O filhote custa entre R$ 1.200 a R$ 2.000, dependendo de fatores como genética. Já o preço do adestrado varia bastante, entre R$ 3 mil e R$ 20 mil, conforme o perfil desejado pelo comprador para o cachorro, se para atuar no campo ou em competições, além da genética.
O treinamento, que demora aproximadamente cinco meses, custa de R$ 200 a R$ 465 por mês, incluindo alimentação, é barata, cerca de R$ 40 a R$ 50 por mês. Isso porque, apesar de o cão ser capaz de trabalhar até 18 horas por dia, ininterruptamente, ele come pouco - seu peso médio é de 20 quilos. Após o período de treinamento do animal no CT, o fazendeiro ou a pessoa por ele designada passa recebe todas as informações referentes aos comandos e como trabalhar com o cão de forma correta. O canil - www.canil-boiadeiro.com.br - também disponibiliza cursos para treinadores.
O representante comercial Roberto Brant, também produtor de gado de leite no município de Ferros, Região Central do Estado, tem um Border Collie, que está em fase final de treinamento no CT de Pedro Leopoldo. Pelo que conhece do cão, ele acredita que terá vantagens quando o animal iniciar o trabalho na fazenda. "Ele faz o serviço de dois homens", comenta.
Para Brant, uma das vantagens da raça é a não necessidade de avistar o gado, agrupado por exemplo do outro lado de um morro. "Basta dar o comando que o cachorro busca o gado." A possibilidade de guiar o cão de longe, com um apito, também é positiva.